quinta-feira, 26 de julho de 2007

CHEAP TRICK - Surrender

É o que eu sempre digo: We’re all alright, we’re all alright.

Mother told me, yes she told me | I'd meet girls like you | She also told me stay away | You'll never know what you'll catch | Just the other day I heard | Of a soldier's falling off | Some Indonesian junk | That's going 'round || [Chorus: Mommy's allright, Daddy's allright | They just seem a little weird | Surrender, surrender | But don't give yourself away] || Father says your mother's right | She's really up on things | Before we married Mommy served | On the WACs in the Philippines | Now I had heard the WACs recruited | Old maids for the war | But Mommy isn't one of those | I've known her all these years | [Chorus] | Whatever happened to all this season's | Losers of the year | Every time I got to thinking | Where'd they disappear | Then I woke up, Mom and Dad | Are rolling on the couch | Rolling numbers, rock and rolling | Got my Kiss records out [Chorus] Awaaaayyy, Awaaaayyy... | We’re all alright, we’re all alright… |.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

O assessor especial da Presidência da República Federativa do Brasil

O assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, sob pressão do Jornal Nacional e dos políticos brasileiros, acaba de pedir desculpas a nação brasileira por peidar em seu gabinete.

A câmera, que outro dia, durante a sua espionagem, sozinha, flagrou o assessor gesticulando por causa do acidente do avião, não quis se pronunciar a respeito. Alguns cogitaram ser o luto oficial.g

"Cromossomo 3 - Os filhos do medo (The Brood ou Cromossome 3)" - 1979 - DIR: David Cronenberg

Frank Carveth (Art Hindle) não é o tipo de protagonista que está à espera do tradicional obstáculo de roteiro que vai proporcionar conflito e fazer a trama deslanchar. Ele não está levando a vida em linha reta em seu rumo até que uma vaca morta na estrada o force a desviar. As possibilidades de conflito para o personagem parecem estar em todo lugar, se oferecendo pra serem usadas. Frank está pleno de problemas que vêm de seu casamento dissolvido com Nola (Samantha Eggar). Mas a coisa vai além do desarranjo familiar. Sua ex-esposa vive em uma clínica psiquiátrica em tratamento intensivo sob os cuidados do Dr. Hal Raglan (Oliver Reed), que criou uma inovadora cura dos males da psique, o Psicoplasma, que consiste em fazer os pacientes manifestar sua ira mais profunda em resultados físicos, quase sempre como marcas relacionadas com dor (feridas, hematomas, escoriações, etc.). A avó materna de Nola (Juliana Kelly, interpretada por Nuala Fitzgerald), por causa de divórcio, também tem seus problemas afetivos e isso vem sinalizar para Frank o que pode ser dele daqui a alguns anos. O avô materno (Barton Kelly, interpretado por Henry Backman) estende a possível mazela futura de Frank para o vício que consola em vão, e por isso os laços com o passado estarão mais intensos e doloridos. Como se não bastasse os sinais de um futuro nada promissor no campo afetivo, a vida amorosa de Frank está em frangalhos, a ponto de afastar qualquer outra pessoa que porventura queira estabelecer laços amorosos; sinais de um futuro péssimo desde o presente, e não só no porvir. E a filha, Candice (Cindy Hinds), vem manifestando um comportamento alimentado pela conjuntura familiar.

Momentos em que o acúmulo de variados problemas força o rearranjo de tudo, nada semelhante à trajetória de vida tranqüila em que de repente surge um foco de sofrimento; doença grave num membro da família, por exemplo. É mais como se cada setor da vida do indivíduo, a partir de cada fundamento, viessem se rearranjando todos ao mesmo tempo. Mudança assim, em coisas pelas quais se tem afeto, geralmente resulta em sofrimento. E quando todas as partes do todo parece se rebelar contra as coisas e estados que estimamos, um sofrimento de maiores proporções se configura num dos piores temores que considerávamos possíveis, pois não afeta apenas o indivíduo, mas todo um sistema em que o indivíduo está ligado a outros por amor.

Na situação em que os focos de sofrimento são multiplicados, algumas pessoas se desesperam, angustiam-se, entram em depressão, enlouquecem, optam pelo suicídio; outras assimilam as situações ao invés de entregarem-se aos sentimentos e desejos (elas possuem os mesmo anseios, mas parecem preferir entregar-se ao infortúnio). Masoquismo? Estoicismo? Resignação forçada, comum aos miseráveis? Não é pra tanto. Em meio ao sofrimento múltiplo, esse tipo de pessoa faz o que está a seu alcance em relação a um setor específico, os outros, sinto muito, ficam de molho – se pagar a conta de luz, não se paga a de água; mas a de água demora mais pra cortar, então pago a de luz.

Outro matiz dos que estão imersos no sofrimento é em dado momento optar por agir em favor de quem/o quê se ama muito, como se o sofrimento tivesse livrado da supervalorização certas coisas a que ela estava arraigada. São pessoas e necessidades que passam a merecer um esforço a mais do que já se faz pra se ficar de pé em meio a esse tudo. Coisas únicas que agora parecem ter valor são aquelas dignas do amor mais puro, purificado pelo sofrimento, por assim dizer, amor que faz parecer o destino dele algo mais nítido do que antes. E é acontecimento dessa ordem que é o rompante da trama em "Os filhos do medo (The Brood - 1979 - Dir: David Cronenberg)": o conflito do personagem Frank parte do esforço extra que o afeto requer para aquilo que detém importância maior dentre todos os demais – a filha de Frank, Candice, depois de uma visita à mãe na clínica, volta pra casa com machucados nas costas.

Vestígios de violência, de acidente, da insanidade materna, vestígios de experiências psico-traumáticas? Cronenberg opta por se dedicar aos vestígios dos outros membros do debilitado sistema familiar Carveth/Kelly antes de fornecer a resposta, como se a filha, ela mesma um vestígio dos pais, precisasse ser amadurecido antes da eclosão de sua dor.

Se Frank rejeita num primeiro momento sua ex-esposa Nola como vestígio seu (aparentemente muito decididamente, de modo a eliminar um sofrimento desnecessário), o mesmo não se dá com os pais dela. Juliana e Barton são vestígios um do outro e possuem vestígios um do outro. Os vestígios que ambos detém são a má resolução do convívio amoroso e com o tempo imprimiram marcas mais profundas. Em Juliana a dor dos indícios estava manifesta o tempo todo, internamente, mas tão presente que é evidente no exterior. Em Barton eles estavam incubados, mas vieram à tona quando ele percebe que seu vestígio ficará sem solução, quando a perda definiu que será assim (vestígio sem origem, sem motivo, gera incerteza, o que incrementa a dor). Ambos encaram suas marcas de modo oposto a Frank. Eles são o que seria de Frank no futuro, caso tivesse sustentado sua relação com Nola por mais tempo.

Nola Carveth não faz a contenção de sua ira como Frank faz com a sua (ira que no filme sempre produz os resultados mais bizarros, deformados e deformadores, e tem muita importância no desenvolvimento do filme). As relações que ela mantém com os vestígios diante de si são todas desequilibradas, ela rejeita a natureza deles, como na cena em que lambe o produto de si mesma animalescamente (tratamento que não é dado nem a um objeto, nem a algo dotado de vida humana). Nola, como muito dos demais personagens do filme, tem traços do momento da vida de Cronenberg que corresponde ao período da roteirização do filme, que se deu durante o complicado divórcio de sua esposa na época; ele teria dito que Nola possuía algumas características de sua esposa, como muito do que há no filme expressa os temores e desejos de Cronenberg no momento.

Como o próprio Cronenberg mais tarde disse em entrevista a Serge Grunberg, para a revista Cahiers du cinema, ele não tinha a intenção de dar traços autobiográficos ao filme. O que havia em si era uma necessidade de escrever antes de descansar de todo o tumulto das questões de separação e custódia, a estória tinha de ser escrita de uma vez, logo. A obra que surgiu é a que mais possui material extraído da vida do realizador. Um filme escrito e realizado privilegiando a dimensão fantástica e a invenção e que foi motivado por uma espécie de compulsão nunca sentida antes, segundo Cronenberg, espécie de expurgo dos períodos mais complicados da vida do cineasta.

Há ainda os vestígios dos outros personagens que não se envolvem intimamente com o sistema principal do filme – mas não deixam de participar intensamente dele, como se Cronenberg não deixasse ninguém sem sua marca, como se ninguém que tivesse o menor contato com a circunstância saísse ileso: o personagem que move o processo contra Raglan tem seus vestígios revoltando-se contra ele (são os laços afetivos construídos no passado que se manifestam posteriormente descontentes); a professora de Candice, que se enamora por Frank, não sabe lidar com os vestígios em Frank, se esquiva deles e teme os que estão em Nola (é a possibilidade de não haver novas relações amorosas no futuro, por causa da assombração pelo passado ou pelo que há do passado em Frank); ou o personagem insano, que ignora os vestígios e a dor advinda deles e doentiamente permuta a importância da dor pelo desejo de afeto (o temor de no futuro a ânsia por afeto se tornar uma obsessão pelos acontecimentos passados).

O Dr. Raglan é a frieza científica que facilmente manipula o pior numa situação para se alcançar a solução (ou para resultar em feridas que se justificam ao dizer que são percalços até a solução?); ele é o lado cruel humano que se manifesta em épocas difíceis ou não, que não hesita em colher benefícios em nome de suas prioridades, mesmo sabendo que isso pode causar feridas no outro, sobre a escusa da necessidade. Raglan de certo modo passa a ser também uma espécie de confirmação de que o filme não é a voz de quem pode mais, que vai nortear a opinião alheia a seu favor e satanizar o outro; ninguém está incólume de culpa, responsabilidade ou origem de dor, principalmente seu realizador.

Os derradeiros planos do filme, epílogo da trama, também é um diálogo que o filme faz com mais de um sentido em relação aos resultados do que se acabou de assistir, se assemelhando ao que era a circunstância do pai de Candice ao início do filme – era, porque ao fim já não sobra senão uma única coisa do passado que promete estar presente no futuro. O plano do braço da menina com as feridas em duplicidade, vem remeter a duas questões: a dor emocional da criança – como já indicado pelo psicólogo da polícia, coisas que se manifestam de um jeito ou outro caso não se assuma o que presenciou (um passado imediato, que já é o presente da personagem) – e uma herança materna que traz a semelhança da genetriz consigo – neste caso, do passado vem a possibilidade de ruína no futuro vislumbrada desde o presente (por isso o plano seguinte dos olhos da menina com sinais de choro, mas sem expressão que diga o porquê das lágrimas); nada de alívio, é a dor (e depois, talvez, loucura, e adiante, horror) que em alguém forçosamente seguirá para o futuro. É o fantástico terrível transcendendo os limites ficcionais entre espectador e filme, deixando vestígios na vida e indicando em si os que colheu dela. g

Nada de estrelas ou desenhinhos. Aprovação: 72,7%

Sugestão de link (em inglês): http://www.cinetudes.com/THE-BROOD-by-David-Cronenberg-Part-1-1979_a142.html
Ah, morreu o ACM.