quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Mil tretas - Roda Viva x Mano Brown (24/07/2007 - 22h40)


Roda, pião

Decepção de pessoas diante da entrevista que Mano Brown deu no Roda Viva (TV Cultura, às segundas-feiras, às 22h40): os donos da mesma se iludiram com ou superestimaram o artista, que alguns também já passam a subestimar – e se alinham a desafetos que subestimavam o rapper há muito.

Esperavam os entrevistadores e muitos espectadores um messias das massas, um ativista, porta-estandarte de bandeira política, renovador das ideologias emanado no povo, um gênio a aflorar na pasmaceira intelectual nacional, um brilhante artista que se não tiver justificativa não merece a alcunha.

Mano Brown não enganou ninguém que não se predispunha a crer, mas depois do Roda é ainda mais cabide para a frustradora auto-ilusão (que injeta esperança) da cultaiada, da imprensa e dos cabeças.

Pra massa de moletom Mano Brown é um guerreiro, de boné, que dispara a munição entalada na garganta do urbano que se julga ser o tártaro logo ali. É a expressão do desagradável a que o povão se adaptou, e olha, no fundo já não acha tão ruim assim. É o “Não enche o saco”. É aquilo que você teme e te sobreveio (Uga-buga!) – explicações parciais; o negócio é andar ombro a ombro com o cara, como ele mesmo disse que procura fazer (junto do KL Jay, do Edy Rock e do Ice Blue) no que destina a quem se propõe a ouvir.

“Como pode um sujeito desses, um, um... artista, então, ser normal; tem só a 8ª série e não foi além por não gostar (também, num país em que o Lula é presidente...) não gosta de ler a imprensa brasileira, mas leu Malcolm X e a bíblia, como é possível chamá-lo de gênio?”.

Nesse Brasil de hoje, em que se habita cheio de náuseas, não se é alguém com permissão pra se ter notoriedade se estiver sem causa, sem miolos, sem opiniões escoradas em filosofias estimadas (Veja, Carta Capital, Piauí ou Caros Amigos também vão servir), sem estar disposto a fazer pelo social quando tiver fama e sem querer bem ao Caetano. Não se pode ser contrário a quem vem alcançando êxito por luta (ainda que a liberdade permita ser contra o que se queira), não se pode ser brasileiro sem gostar de feijoada e carnaval, não se pode não ser de esquerda/direita/centro, corintiano não pode gostar de verde, não se emite a voz de Deus sem que ela simultaneamente seja a voz do povo, não se pode achar celular dispensável, não se pode ser esquivo (entenda: entrevista DEVE ser como tribunal, nessa terra), não se constrói imagem que a opinião pública vá descobrir depois que não é nada (embora todo mundo saiba que imagem é coisa ridícula). Renunciar é proibido. É preciso ter parâmetros para que se possa ser analisado, senão você é só um ente sabe-se lá de onde.

Se percebem que você não tem conteúdo que cesse a sede de irrelevância entre eles, então você não tem nada, e por isso não é nada, e por trás do que diz não tem nada que valha uma tampinha de tubaína. Motivação e subjetivação não é nada, a não ser quando o priorado ou seus pimpolhos estão no divã; é imperdoável ir contra isso.

Tinha e tem muita gente, agora rejubilante, querendo enterrar o Racionais MCs. Tomara que eles tenham conseguido só derreter a imagem que estes artistas sempre sustentaram (e se desvencilhem dela de uma vez) e pensaram bastar, e que não, não contaminava integralmente a sua obra, que tem sim seu valor. Agora é a oportunidade deles conceberem o plano final pra calar a boca de quem regula julgamento sobre caráter baseado no próprio bom gosto.

Das letras dos Racionais MCs, Mano Brown disse que não são feitas pra significar, são só rima (muitos gente espantada, na hora da declaração). Agora isso escandaliza? No rol da arte de que eles foram privados (e por isso foram desenhando uma cultura própria, não há como negar), isso é uma espécie de norma, embora ali mesmo muito da arte no contemporâneo privilegie o realismo e o retrato puro e sem significado (e com falsa responsabilidade). Então por que ninguém parou e foi atrás antes do significado nas músicas, especialmente a imprensa, a crítica, os prêmios e aqueles com mais acesso à cultura, que sempre lhes deram alvíssaras? Quer dizer que no caso dos Racionais MCs o retrato da realidade agora é completamente despreendido de significado, mas noutras expressões artísiticas convenientes não?

Caiu a máscara? Isso não deixa seqüelas. Não se pode dizer que os Racionais MCs também não estivessem pedindo por isso. Há que se torcer que isso os aprimore e não os ensoberbeça, que não os façam se auto-impor uma segregação, um eterno reduto no “já era”, pois o talento é patente, não vê quem não quer (e quem acha que eles infectaram toda uma geração duma classe). Mas que há muitas arestas pra aparar, há. Será ótimo se isso ainda puder aprimorar o público fiel – que a essa hora vai precisar separar bem as coisas.

Corre, cotia

No entanto, a máscara da imprensa e dos intelectuais da nação não cai . Os entrevistadores no programa, os detenteores do conhecimento social, a TV pública e a imprensa, foram mesmo anêmicos no momento. É possível contar uma piada de baixo calão sem graça com delicadeza? Pois não foi muito mais que isso. Todo mundo estranhava, menos a Roda. Talvez seja mais um sinal do apocalipse jornalístico brasileiro, em que a Veja se ergue como Babilônia – que venha logo o novo céu e nova terra da imprensa.

A mesma imprensa e os mesmo intelectuais que só fizeram coro, indicando um ímpeto mocorongo, quando religião pintou na Roda (ponho um certo sentido chulo, aí). O motim de particularidades, na verdade, foi desrespeitoso com entrevistado (que freqüenta cultos cristãos-evangélicos) e espectadores; purularam conceituações e sugestionamentos ridículos de que nem catedráticos estavam imunes: Preto fica feio fora de religiões, preto não é tão livre pra mudar de credo, religião de pobre é a afro, que evangélicos são impositivos (talvez uma certeza extraída de pesquisa secreta minuciosa com 18% da população brasileira, evangélica, justificasse tais preconceito e contrariedade – mais uma amostra de que essa parcela da nação ainda contínua uma incógnita para artes, intelectuais e formadores de opinião), que o candomblé é a religião mais livre. Belo festival de leviandades.

Houve ainda discussão sobre equívocos como sendo fatos, perguntas picarescas, sub-aproveitamento do entrevistado, e bem, não vale à pena prolongar. Resumindo: uma das piores entrevistas de um dos melhores programas da TV brasileira em uma das mais valiosas oportunidades. O melhor: a alma do Mano Brown. Pra ter noção do que eu disse aqui e mais detalhes do que houve na segunda, veja http://veja.abril.com.br/blogs/reinaldo (comece por “Espetáculo grotesco na TV Cultura”), por quem pensa estar por cima da carne seca, Reinaldo Azevedo - um jornalista (da Veja). Triagem será necessária.

Na casa do carvalho

O que deveria enojar mais ainda é a normalidade com que muita gente enxerga o título do dia seguinte: “Em entrevista no Roda Viva, Mano Brown é só um mano a mais” (http://www.estadao.com.br/arteelazer/not_art56602,0.htm) – não, pobre não é tudo igual, o MC não é só mais um, mas há certo padrão na visão da cambada que detém algum poderzinho. Sr. Pedro Paulo Soares Pereira, o sangue que eles gostam é o que a bandidagem verte na TV, as informações que eles gostam é a que rende o que não assumem ser irmã da fofoca. Os mesmos dizendo que o povinho que aparece ali na TV deve ser meio fedido. g

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Novos vícios - Frets on Fire



A música é uma coisa que desde a antiguidade arrebata emoções, e sempre os especialistas nela é que foram, são e serão os arquitetos deste arrebatamento. Os especialistas variam: pessoas, a natureza, o acaso, o raio que parta. Os meios que eles usam são físicos, ambientais, irreconhecíveis, o escambau a quatro – e a tecnologia: que não ficou restrita a música digital, mas embarcou no campo do entretenimento digital, cheio de carga da anterior, e desaguou nos videogames. O resultado no presente da internet (se é que temporalidade serve como adjetivação) é um joguinho mucho do legal (também por ser de graça), o “Frets on fire”. Guitar Hero é legal, mas é pago e é restrito pra conseguir música, se for considerar a infinita vantagem que o primeiro possui nisso.

O negócio é o seguinte: faça o download no link (
http://www.filefactory.com/file/7d8e6a ), descompacte (está em RAR), vá na pasta e execute o jogo no ícone do “F” em chamas (não precisa instalar), configure (tudo simples, não precisa ser cientista da computação – dá pra colocar em português tupiniquim), depois prepare-se pra abandonar a babaquice do air guitar. Ah, e dá pra baixar mais músicas fuçando por aí; pra começar: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=31079387.

Enstrossões de jioghu: primeiro tire seu teclado da mesa, aí levante ele e bote as teclas contra seu monitor (não precisa encostar na tela, júme); agora, traga ele junto de seu peito ou pança, como preferir; repare que no teclado a tecla da barra de espaço aponta pra seu queixo e a tecla F5 para seu pinto/perereca. Então, como se o teclado fosse uma guitarra você usa os dedos da mão esquerda sobre as teclas F1, F2, F3, F4, F5 e algum dedo da mão direita pra pressionar a tecla Enter (que eu sugiro mudar para a Ctrl do lado direito) como se fosse as palhetadas (não sabe o que é isso? Já ouviu falar de rock’n roll?). Se tiver problemas com a explicação, veja o link e não encha o saco:
http://www.youtube.com/watch?v=50XAHx2sPYQ

Taquei também umas músicas que não há na versão (coisas finíssimas). Agora deixa eu jogar pra dar uma relaxada e dar um pé na impaciência.