segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

True Blood - há bebida nas veias de todos


Indústria japonesa lança o produto “True blood”, sangue sintético que pelo mercado passa a permitir a inserção social dos vampiros na diversidade humana. A política se realinha para compreender o interesse dos novos cidadãos, todavia seres centenários. Em cenário norte-americano, ocorre resistência moralista para a inserção social dos hemófilos, tanto quanto amoralista (de hedonistas, existencialistas, capitalistas, e outros mais) humano, que procura tirar proveito do sangue vampírico, apelidado de V-juice, incrementador das características e habilidades humanas. A trama se centra na New Orleans pós-Katrina, onde vive a protagonista Sookie Stackhouse, telepata e garçonete que serve seus clientes rejeitando a intrusão dos pensamentos deles na mente dela, algo que funciona como uma antena.

"True Blood", pelos dois primeiros episódios, é algo feito pra se gostar; para uma grande massa gostar. É realizado nas bases da excelência técnica hollywodiana, e como tal fica devendo em porções que são pertinentes ao Cinema (Hollywood e HBO são cinema, mas Cinema também é muito mais que ambos). Narrativa linear clássica (não se deixe levar pela competente abertura-embalagem), com roupagem de algo contemporâneo de padrão médio. Muito boa fotografia, desenho de som sem estripulias, roteiro sem exageros criativos, edição privilegiando a trama; não se quer ir além e nem ficar aquém disso. Elenco competente transborda latência potencial (todos em ponto de bala pra ir além; querem ir além – poderão ir além?).

Produto de entretenimento puro, com algumas escapadelas críticas que podem soar um pouco fora de lugar para a massa, pois veja bem, ela está diante de um produto orgulhoso de ser mercado (que nivela todos sob segurança supostamente indelével), ainda que na tônica despudorista HBO - que é fundamentalmente mercado, com a diferença de que esta sempre se esmerou em forjar mercado particular para si (“O carona - The hitchhiker”; desde “Twin Peaks”?). A HBO em “True blood” joga sob regras estéticas do mercadão, majoritário, fazendo pensar em novo review estético. É bom notar que o ápice de ousadia, o excepcional “John from Cincinnati”, fez água, coisa que “True blood” já se mostra indisposto a fazer.

Há que se torcer para que o que soa oportunista não o seja (o críticismo social), mas se confirme como uma característica que ao longo da série eleve a qualidade dela. “True blood” coloca o espectador diante de si feito vampiro sedento de sangue; o melhor está aqui, então mais e mais, só que aos poucos, pelos furinhos na jugular. A questão é se mais adiante bate a humanidade no espectador: “Putz, mas é só isso?” – este é o risco da pasteurização mercadológica na série, bem presente, e da vontade de comportar tudo sobre o tema (o espectador, já acostumado ao vampirismo, notará sempre o que é nativo da série, e não a tomará como mesmice da múltipla ficção de vampiro?).

Mas a que vai se dever o necessário incremento de qualidade, a qual a série se inclina, afinal de contas?

Ao conteúdo dramático, sem dúvida. O proposto redesenho social a partir do mercado, é muito interessante, o problema é disparar tiros para todos os lados sem mirar nenhuma vez no mercado que é o grande mantenedor da série. Quero dizer que ousadia estética é uma coisa (que aliás não é o forte de “True blood”), mas ousadia crítica dramática outra. Assumir uma postura crítica sobre muito na realidade, mas não firmar tal postura no jogo mercado-espectador real é no mínimo hipócrita e isso desbarata qualquer ousadia dramática.

Na face de gênero da série, há o perigo do kitsch. “True blood” opta por partir não de uma corrente do sub-gênero vampiresco, mas por contar com a contribuição de todas as correntes, reorientando segundo o momento da série alguns de seus aspectos. O novo vem da reciclagem, não da inauguração: o cenário é a New Orleans e vampiros são ex-humanos mortos de corpo sempre frio que não podem morrer afogados, óbvias referências a Anne Rice; porém a prata que imobiliza e o convite que permite o vampiro entrar numa casa, é de universo vampírico mais clássico; já o beber do sangue de um vampiro não tornar um humano em vampiro (outra coisa os torna, e também não é a mordida de um vampiro), é contrário a Anne Rice, mas é de outra ordem, talvez os quadrinhos da Vertigo ou mitologia não tão popular, mas pode ainda ser coisa criada na própria série. “True blood” é o tabuleiro da baiana de presas pontudas.

Como também a série não é construída para imprimir medo (a indelével segurança), nada de sustos. O máximo de tensão se dá nas viradas dramáticas ou no gancho ao final de cada episódio. O que vai se dando é um desfile de referências aterrorizantes, mas sob condução do drama e de alguma aventura (com alguma ação), também evitando o humor negro, sem desprezar situações de ironia. Mas há presença de outras referências, como filme B de terror, noir, o terror crítico e cômico que se filia a maestria de George Romero, John Carpenter, Joe Dante. Sem gore algum, claro, mas com tempero sexual a la HBO - o que cerca a penetração é explícito, mas a penetração em si nunca o é.

É divertido, mas é inevitável a noção de que vai gastar fácil, principalmente porque o vampirismo é algo desbotadíssimo, que carece de renovação, mas a série não resolve encarar logo de início. Paciência. Se o pior acontecer, toda a parafernália vampírica no futuro será como sobra de carro alegórico de 3 meses pós-carnaval. Acontecendo o melhor, pronto, já dá pra mostrar pra molecada tonta (adolescente ou adulta) o que é série decente, não "Supernaturals" da vida.

***

Nada de estrelas ou desenhozinhos. Aprovação: 74,2%

ESTRÉIA: 18 de janeiro de 2009 na, HBO BR, às 22h00.
MINISITE: http://www.hbo-br.tv/trueblood/default.asp
SITE: http://www.hbo.com/trueblood (dá pra assistir a primeira temporada completa em inglês).
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0844441/

Epsteinmologia

"Não existem histórias, nunca houve histórias, há apenas fatos sem pé nem cabeça, sem começo e sem fim".

Jean Epstein, 1897 (Varsóvia - Polônia) - 1953 (Paris - França).

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Libertos

Liberdade no contexto contemporâneo é:

Despreendimento, íntima sensação de leveza;
Desvencilhar-se do outro para ficar preso a si mesmo;
O espontâneo tráfego entre prisões - entre instituição e grupo, entre família e casal, entre o eu e o nós, entre o nada e o tudo - petrificações conceituais aquém da experimentação;
O que fica para depois do "Não me enche o saco!";
Peidar no elevador logo na sequência de outra pessoa que acabou de fazer o mesmo.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Em quadros - II

“Casa de Alice” (Idem – BRA – 2007 – Chico Teixeira) – Dramaturgia cuidadosa e incomum no Brasil, aliada a um trabalho de elenco preciso, mas intenso. Mais uma vez a estrutura familiar em exposição. Se existe uma coisa altamente resistente, é a estrutura familiar; sobrevive até a perversão de afeto. Quando a estrutura não importa mais, ainda assim ela renova-se por relações inter-familiares reduzidas, mas quando se procura relações fora dela, o que perde importância atinge o esquecimento, aí a estrutura se fragmenta. O filme é cru, e com isso, construir um olhar sobre as mazelas mais que a porção de beleza que existe em relações humanas, ainda que sem a atmosfera, causa a impressão de um filme de horror. Não é que o filme não contenha beleza, e o problema não é que não prime por ela, mas é que a beleza e certa virtude que ela traz consigo, vai sendo sufocada pelo que odiamos. Mas este é um problema do filme ou um problema freqüente da realidade familiar contemporânea fora da tela, porém na tela? Não ouso torpedear um possível pessimismo no filme. Ouso provocar a profunda busca de um realismo como escora de qualidade fílmica, mas que quando a sede por beleza artificial injeta poesia no realismo, veta questões incômodas que estão na vida, e por isso o realismo, que traria questões mais valiosas para vida, vira somente um agrado a mais para a vaidade humana: o filme não atinge a vida embora extraia dela todas as suas possibilidades; o cine-egoísmo de muitas obras-primas cinematográficas, todavia irrelevantes para a vida. Deste mal “Casa de Alice” não padece, mas de outros que podem ser aperfeiçoados, e disso não se envergonha.


“Trouble every day” (Idem – FRA – 2001 – Claire Denis) – Para que o corpo, se o humano possui intelecto, vontade, sentimento, espírito? Talvez, porque nós, em dimensão física, não somos capazes de nos tocar intimamente tão facilmente pelas nossas porções metafísicas, somente (sem corpo o cinema seria o que?). Nas relações o corpo é como que o filtro de outro corpo em nossa intimidade, para que tão somente o metafísico seja o toque na mais profunda intimidade. Por isso que sexo por si mesmo precisa de amor, desejo e intelecto. Desejo, quando provém de um, corresponde a este um, mas amor faz este impulso ser para outro, ou melhor, para ambos; já o intelecto nos baliza no reconhecimento de amor e desejo como princípio e meio. Faltando amor e sanidade, mas excedendo o limite do desejo, temos a proposta do filme. É como se sem amor só houvesse o ódio, mas no filme este é impelido por um extradesejo; todas engrenagens de uma maquina humana de destruição. Sexo e morte. Daí, todo aquele que penetra na zona de intimidade de um insano, se torna vítima. Nas relações o corpo fornece inúmeros setores de proximidade da intimidade, mas há o resguardo que o desconhecimento do além corpo concede na quase totalidade das situações, caso contrário, a vida seria apenas intimidade. A insanidade do filme cega para isso, e toda forma de vestígio de intimidade vira o meio para explodir o desejo em carga máxima rompendo limites: se o desejo é o um diante do outro, o extradesejo é apenas o um, e o outro só existindo no desejo do um (por isso que nesta situação o outro só dura enquanto palco do desejo; o outro não pode pedir o um, por isso deve ser destruído). O amor quando acessa a intimidade do insano, evita os males do insano. Macabro, dirão, mas o exame mais profundo de comportamentos que se julgam corriqueiros não dirão muito diferente. Num olhar macro (e menor) pela montagem/edição do filme, numa primeira porção desfilam por fragmentação variadas relações humanas (casamento, trabalho, amizade, proteção, manutenção), nos fazendo saber do que ocorre e que algo mais ocorre; então chega uma explicação numa conversa, como que iluminando o indetectável; segue o mergulho numa estabilidade de reconhecimento de circunstância que é quase nada diante de um aprofundamento sem retorno no terrível que não podemos deter – além do intelecto, insanidade e inalcançável por qualquer vontade. Mas resta o amor.


“Chega de saudade” (Idem – BRA – 2007 – Laís Bodansky) – Filme belo, filme alegre, sensível, de olhar delicado, mas sobre algo não todo suave. Impressiona mais do que “Bicho de sete cabeças” este multiplot, dentre os quais um se destaca, por expor o desejo, a paixão e o interesse niveladores de sexos. Desejos diante de mesmas questões, provindo de qualquer sexo, apresentam fragilidades e fragilizações. Por isso niguém é melhor no que quer, mas no que é - e quem são os melhores? Importa certa beleza que há em igualdades em meio a diversidade, isso vai além de curiosidades e saudosismo. O feminino demole o feminismo, e o masculino o machismo, quando a paixão demole barreiras ideais devido à mágoas – e às vezes nem é preciso tempo. O ser humano é hábil em descaramento e em extrair de muita coisa secundária valor e alguma beleza (o que não é o caso do filme). Bravo, Laís.

domingo, 28 de setembro de 2008

O carona (The Hitchhiker)

No início dos anos noventa, talvez até antes disso, a Rede Grobo (fuc!) passava nas madrugadas de domingo (acho eu) uma série que quando era moleque me interessava, mas eu nunca consegui ver (também não lembro o porquê). Chamava-se "O carona" (The Hitchhiker). Como você deve ter percebido, saquei isso de um canto obscuro da memória, e ainda deteriorada.

Foi aí que pesquisando na net, descobri algumas informações que atiçaram mais ainda a curiosidade: foi produzida originalmente de 1983 à 1991, teve 6 temporadas; no gênero que uns dizem ser horror, outros mistério, mas é dramática, também; a série é da HBO; foi exibida com montes de cortes de conteúdo, pois continha nudez e violência explícita (a HBO já investia num tipo de série mais adulta, como que numa iniciativa que deu frutos mais recentes, como em "A família Soprano", "A escuta", etc.); e possuia um tom de séries de mãos habilidosas como Alfred Hitchcok e Rod Serling (do "Além da imaginação" - anos mais tarde, aí sim em meados dos anos 1990, a mesma HBO exibia aqui no Brasil "Perversions of Science", algo bem inspirado em "Além da Imaginação", mas não tão variado em gênero; possuia também um tom que lembrava os quadrinhos da EC Comics).

Alguém se lembra de "O Carona", e também "Perversions of Science"?

Porque faça o favor de me dizer, não acho nenhuma das duas em canto nenhum, na web ou em loja. A web, aliás, anda meio esquecida dessas séries - tá vendo como a internet não salva todas as lavouras?

O único video que achei, com propaganda antes (com os geniais Stray Cats), tem a abertura da série mais o início de um episódio de "O carona" - http://www.imdb.com/title/tt0085031/ :

http://www.youtube.com/watch?v=lzonIagnUuc

"Perversions of science" é esta - http://www.imdb.com/title/tt0118426/ :

http://www.youtube.com/watch?v=_Gp4u5vR0hk

Quem puder ajudar, ganha um lindo "muito obrigado" de último tipo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Wario no Wii

O título da postagem não é em japonês. Trata-se de uma propaganda bem legal. Quando propaganda é legal sem ser nociva, merece ser mencionada para além da argumentação de venda. Dá uma olhada:

http://www.youtube.com/experiencewii

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A cidade alicia (tentei evitar)

Image Hosted by ImageShack.us

As séries nacionais trazidas pela HBO até o momento contém cinema. Nesta crescente vertente de produção, cabem distinções, pois na variedade, parâmetros começam a surgir. Por exemplo: “Mandrake”, série intoxicada de pompa e embriagada de futilidade é demasiado produto, e o que ressalta é técnica de realizador em gerar audiovisual (ostentação para entreter); “Filhos do carnaval” é tentativa de agrado de públicos, ousou mais qualidade. E agora “Alice”.

Sim, “Alice” é produto, tem comprometimento com audiência, mas alcança outro patamar. Não é série, não é cinema, como os autores/realizadores afirmam na propaganda no canal por assinatura. Por seu primeiro episódio, a série alcança êxito dramático, técnico, de realização e tem toque autoral. Mas não é cinema de autor, primeiro porque cinema não é coisa de um, segundo porque “Alice” não é puramente cinema. Um híbrido? Talvez. Certamente, com teor de novidade para a TV.

É interessante observar no primeiro episódio, “Pela toca do coelho”, o que opera Karim Aïnouz (um dos diretores da série, junto com Sérgio Machado, Jonny Araújo e Márcia Faria. A Gullane co-produziu). Considerando seus “Madame Satã” e “O céu de Suely”, a precisão do filmar resulta em economia de tempo, mesmo na duração reduzida de episódio. O cinema de Aïnouz é de minimização presencial de trama e tira bastante proveito do tempo. Estando presente a trama, ela é desenvolvida em instantes preciosos. Entre estes, nos intervalos, que são maiores, cultiva-se cenários, desenha-se o ambiente da série, que é não o da megalópole-sociedade hostil, mas o da avalanche de possibilidades óticas, sônicas e tácteis, o da inter-relação de formas, cores, luzes e sólidos. Um labirinto onde Alice precisa se encontrar em si mais do que se localizar onde está.

Hostil é o que carregamos em nós, mas agimos como se o ambiente que mãos humanas empilharam nos induzisse a setorizar uma angústia, para usar um termo aliado à multiplicidade. Não é a poluição, a aglomeração ou o trânsito, mas o que o homem impele e vai implicar algo nele. Os que não são da megalópole, quando chegam, vão receber o impacto que aviva o que o humano traz consigo. Mas seja miséria ou virtude, conter sua expressão – ou ignora-la, entorpecendo-se – é sinalizar o local onde as construções devem desabar. Logo, importa é o que decidimos ser em meio à hiperatividade e ao incessante; este ambiente fica opressivo quando não se corresponde ao ritmo do que a concentração de humanidade estipulou em seu entorno; ritmo simplesmente pede definição, no caso, de nós mesmos devemos ser. O que ritmo megaurbano cobra, se não receber, concede a paga da hipocrisia. Pela intensidade, o que a megalópole faz no homem vem desavisado, e Alice é pega sem aviso.

Num táxi, indo ao aeroporto para que possa retornar a Palmas, a megalópole envolve Alice para expor quem/o que ela é/detém. Primeiro o trânsito, e a dor da ausência do pai ferve. Alice quer ar, mas a tecnologia no carro está fora de operação. Alice abre o vidro, e para quem vive na megalópole extradiegética, acostumado ao que vê como indício da hostilidade metropolitana na forma do assalto, é pego de surpresa com a negação do fatalismo que se supõe companheiro de todas as horas. Quem executa a virada na vida de Alice é ela mesma se deixando envolver pela demanda da cidade, não é um assalto ou uma enchente que faria isso; Alice tampouco se conforma à ambulância e ao táxi. A livre-escolha humana, ou arbítrio, quer se conceba livre ou não, está em ação, e no primeiro episódio tem muita relevância. A avalanche humana em dados momentos chega antes que o tsunami do mundo. Realismo consciente.

Tendo mergulhado na cidade para atravessar a noite e para perder-se, só chegando o dia Alice pode encontrar seu caminho. Mas há uma bipolaridade disponível a Alice: não tendo lar em São Paulo, e não podendo acessar o lar de alguém, só lhe resta acessar o trabalho de alguém, visto que também não possui trabalho seu para servir de refúgio - São Paulo em sua forte prisão. Alice procura o brechó que pertence à tia numa galeria paulistana. No trajeto diz a si mesma não se arrepender dos atos noturnos, um deles, uma traição; “Não sinto culpa.”, ela diz, exultante, resoluta. Adentra então a galeria, procurando o Brechó Christiania; seu encontro com ele se dá num plano em que uma coluna oculta parte do nome na fachada do estabelecimento, resultando na leitura do termo como “Christi”. Ali se encontra a tia. Na troca de palavras, escapa uma breve dor num “me ajuda”, de menor intensidade a exultação anterior.

Não sabemos ainda se Alice será uma personagem que exibe uma imagem de si para o mundo e por trás dela existirá a Alice genuína, uma personagem que se resguardará em sua descoberta. Mas a interpretação da cidade em “Alice” já cede sinais de que o que a megalópole ergue do íntimo humano, vai criando camadas até o âmago, onde quem somos na verdade está. Embora não pareça, o ser humano é mais forte que a cidade. Por isso, olhos atentos não apenas as camadas banais, mas aos detalhes que pulsarão em menor destaque. De ambos se produz o que as séries da HBO alegam ser, dramáticas. Isso pede olhos não só para entretenimento. Ótimo.

***

Nada de estrelas ou desenhozinhos. Aprovação: 77,9%

Se você não é assinante do canal, pode assistir ao primeiro episódio aqui:
http://www.alice-hbo.tv

Datas e horários de exibição dos episódios nos canais HBO:
http://www.hbo-br.tv/sinopsis.asp?ser=134&prog=HBE185052

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A fúria e a razão de Moore

"Acho que o cinema na sua forma atual é muito prepotente. Ele nos dá comida na boca, o que dilui nossa imaginação cultural coletiva. É como se fôssemos passarinhos recém-saídos dos ovos olhando pra cima, com nossas bocas bem abertas, esperando que Hollywood nos alimente com um vômito de vermes. O filme de Watchmen parece mais vômito de vermes. Eu, pelo menos, cansei de vermes."

"Há três ou quatro empresas agora que existem somente para criar não quadrinhos, mas storyboards para filmes. Pode-se dizer que a única razão pela qual a indústria dos quadrinhos ainda existe é essa, para criar personagens para filmes, jogos de tabuleiro e outras mercadorias. Os quadrinhos são uma espécie de horta onde crescem franquias que podem ser rentáveis para a indústria cinematográfica debilitada".

Alan Moore, quadrinista, autor de HQS como "V de vingança", "Watchman", "Miracleman", "Do inferno", "A liga extraordinária" e trabalhos emblemáticos com personagens das majors norte-americana, como Monstro do Pântano e Batman.

***

Moore tem razão no que diz, mas em parte.

Certamente Moore fala de uma parcela do cinema, a qual consome, e tem razão no que diz. A parcela do cinema em questão é aquela vereda preferencial do cinema de entretenimento: contar uma boa estória. Isto corresponde a roteiros com tramas e subtramas criativas, personagens que não vão muito a fundo em questões existenciais (para não exigir demais da humanidade que deseja apenas se ver no lugar dos persoangens em situações seguras para o físico, mas que pelo sonho são ousadas), clímax preciso e intenso, imagens que dentro de um padrão de verossimilhança sejam maravilhosas (daí a sede por efeitos especiais), áudio que seja cativante e envolvente. Se pegarmos na literatura os contos de horror, serão aqueles que primam pela atmosfera, e por isso trata-se de uma arte de envolver o leitor numa teia de imaginação em que o sobrenatural espreita na forma de horrores primevos; é uma arte da descrição e sustentação climática por parte dos autores - por isso Edgar Alan Poe e H. P. Lovecraft. Esta é o tipo de arte preferido das grandes produções Holywoodianas. O problema é que a indústria do entrtenimento fez disso produção em massa, e esterelizou a potencia da arte: a arte precisa ser consumida rápido para se consumir mais dela. Eis a razão de Moore.

No que ele erra é sobre a grande produção cinemotográfica mundial (e que Holywood também produz, diga-se), que prima por ser relevante. É arte, mas não necessariamente filme de arte (que pra muita gente doutrinada no catecismo da indústria é o filme chato, por exigir mais da humanidade do espectador). Corresponde ao cinema que se esmera em ser boa experiência, não apenas boa estória, e traz consigo uma gama de artifícios que concede ao espectador visões para e sobre a vida, através de esmero narrativo, alegorias, gramática e sintaxe fílmica, beleza funcional, interferência na vida, incremento humano, e muito, muito mais, inclusive os artifícios usados pela indústria de entretenimento - cada filme tem um valor único e valores subjacentes a serem descobertos. No citado exemplo da literatura de horror, os contos fantásticos, góticos ou não, que funcionam como crítica, filosofia, arte, emblema de época; vale tudo em nome das intenções autorais - por isso Oscar Wilde, William Beckford, Jorge Luis Borges. O problema é que certos autores, gênios até, às vezes são dotados de pompa em demasia. Moore generalizou.

Três ou quatro editoras são notadamente fábrica de idéias para o esgotamento criativo da indústria de entretenimento. Outra generalização. Existe muita HQ na atualidade sendo feita desconsiderando a via para o cinema, tanto é que trata de temas que não se enquadram no Parental Guidance da indústria. Moore parece estar esquecido de que HQ é uma arte tão sequêncial quanto o cinema, e tem proximidade com o cinema: uma estrada atravessa duas cidades.

A prepotência, em princípio, não está na arte, mas no mercado, no entretenimento que só quer consumir mais dele mesmo. A arte usa de artifícios no jogo de manter espectadores/leitores diante de si na contemplação benéfica à humanidade. Ela manipula e pede manipulação dentro dum período em que vigora o lúdico, mas cede de si um retorno a quem lida com ela.

Até certo ponto não há ser humano na face da Terra livre de um mísero traço tirânico. Terrível constatação?

Um exemplo é a declaração de Moore, que pela generalização, impõe a quem a medida de sua diatribe é injusta.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O apreço pela desordem


“Serras da Desordem”, de Andrea Tonacci – BRA – 2006

http://www.imdb.com/title/tt0922605

Fugere urben! Lá no bucólico e pelo naturalismo, onde o homem pode ser puro e a civilização não o alcança, haverá maior realização e o homem maculado será mais íntegro no que perdeu.

Não.

A civilização é uma cicatriz eterna enquanto dure o homem, e ela destrói qualquer possibilidade de pureza, apenas pela sua atmosfera, mesmo quando encontra os que nasceram distante dela.

É a respeito de Carapiru a estória e a história. Carapiru é a pessoa-protagonista. Aquele que muitos ainda hoje ousam não considerar pessoa, exatamente os mesmos que intentaram enxotar Carapiru da vida, para posteriormente o cinema acolher (controle), pois o cinema não tem poder de salvar; o cinema não redime a existência – embora traga consigo muitos apontamentos do caminho.

Escurraçado da vida Carapiru recusa ser. Vai existir no exílio, no medo – fosse este impregnado de civilização, seria no ódio, na revolta, mas o mistério da docilidade reside nele – em uma década de solidão humana, mas não existencial, visto que a floresta é existência e cosmo.

No entanto, há muito o cosmo já não é mais certeza de afeto. O cosmo é força ou coisa. No cosmo, o afeto que se apresenta mais disponível, é no humano – mas no que está impregnado de civilização; o afeto coabita com a civilização.

Carapiru encontra satisfação no afeto, mas a civilidade, ainda que parcial, reinventa o vivo-protagonista segundo suas lógicas de controle. A civilização pode corromper o afeto: afeto entre gente e bicho de estimação.

Surge o INCRA, mas o afeto civilizado familiar o resiste (controles). A FUNAI vem corrigir o desvio de afeto lançando o indígena na intensa civilização (controle). Carapiru existe, desde seu reencontro com a humanidade, fora de qualquer esfera de controle?

Existe enquanto enigma a ser decifrado, e depois que o decifram, pela redescoberta do possível afeto familiar original, ele é devolvido ao controle original de etnia. Mas a degradação está em todo lugar, da mata à civilização, sempre provocado pelo controle. Já é mito o indígena livre, ele cada vez mais é o civilization junkie.

Há um idioma que o Carapiru da nossa contemporaneidade fala que intérprete algum hoje é hábil na compreensão. Nem de sua etnia, sua nacionalidade ou sua moral. É no mistério do que fala a quem não lhe entende que Carapiru pode ser isento de controle, e finalmente livre.

***

Nada de estrelas ou desenhozinhos. Aprovação: 98,8%

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Encarnação de um gênio

Preconceituosos, cineposers, guardiões do bom gosto, hipócritas culturais, o mercado que faz esforço pra ser pop, o povão que imagina usar os próprios miolos (mas pensa com os miolos de grandes publicações nacionais, tipo VEJA), os autoelitizados, os cine-hedonistas, os puristas, os cegos-surdos, os vegetativos, os objetos inanimados e os sem acesso ao cinema podem até dizer que não gostaram do filme, mas dizer que o filme é ruim, heh, meu filho, teu conceito de cinema é esquisito; aliás ele é que é thrash.

A entrada em circuito nacional de "Encarnação do demônio" (BRA - 2008 - José Mojica Marins) deveria ser ponto facultativo nacional.

Gracejos feito "Mais do que você imagina", "O grande Dave", "A múmia 3", "Era uma vez...", "Hancock", "A caçada", "Viagem ao centro da terra", "Arquivo X", ou até "Batman", de certo modo não deveriam ser maior preferência de público brasileiro, que se avança numas coisas, no que tange a preferência de entretenimento cinematográfico retrocede ou estaciona no tempo. Reclamam de cinema brasileiro ser expressão cultural da mesmice sociológica, regionalista, elitista, noveleira global. O cinema brasileiro atual é pouco diversificado em gênero, e quando envereda por gênero é comum ser fraco. Mojica sempre foi e novamente é o oposto disso.

Qualquer atividade comercial sem demanda pára. Brasileiro que gosta de cinema e vive enojado pelo nacional, meta na cabeça que se não se faz filme que você procura por estas paragens, não é só devido a interesses exclusivamente comercias de classe cinematográfica dominante, internacional e nacional, ou por um setor que você julga arrogante apenas por ter mais repertório educativo e cultural que você. Não transfira sua culpa: as oportunidades de reverter certas situações existem, e você quando prestigia é que põe a máquina em movimento.

Do contrário sua estultícia informa que você de fato é um dominado que imagina ser livre, um manipulado por marketings, propagandas e comunicações estratégicas que definem sua preferência. Mas porque você cede, não porque as práticas são fazedoras de zumbis; você se deixa fazer. Por isso que dar crédito a paranóia de mensagens subliminares que dominam sociedades é panaquice: isso é só medo e a responsabilidade que você tem de se manter livre tomando forma, é sua culpa sendo transferida pra uma lenda paranóica; você só não será ridicularizado pelos que procedem como você. VOCÊÊÊ!

Crítica: http://www.revistacinetica.com.br/encarnacaododemonio.htm

Nada de estrelas ou deseinhos. Aprovação: 83,4%
.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Que Youtube, o que.

O Veoh fechou para o Brasil. O Youtube, embora tenha a maior audiência, tem limitação que atrapalha. O Google video não é lá essas coisas.

Precisa postar seus vídeos na internet, mas não encontra sites que ofereçam suporte para HD e CODECs mais recentes, como H264? Experimente os sites da lista abaixo:

***

1- http://www.gamevideos.com

Gamevideos - Tamanho máximo de arquivo: 100MB. Formatos: .AVI, .WMV, .MPG, .FLV e .MOV.


2- http://videolog.uol.com.br

O Videolog aceita vídeos de até 200MB, mas com uma conta PRO libera HD e tamanho de até 400MB. Com exceção do Real Vídeo, quase todos os formatos são aceitos; avi, flv, mpeg, mp4, wmv, dentre outros. Não divulgam informação sobre CODECs.


3- http://users.gametrailers.com/usermoviesubmit.php

Arquivos até 200 Mb. O tempo de compressão dos arquivos após a subida é de 1 minuto por megabyte.


4- http://www.vimeo.com

No Vimeo, depois de registrado, recebe-se um limite de 500 MB por semana (limite de armazenamento: 1 video de 500 Mb, 5 de 100 Mb, etc.). Fomatos: asf, asx, avi, divx, dv, dvx, m4v, mov, mp4, mpeg, mpg, qt, wmv, 3g2, 3gp, 3ivx and 3vx.


5- http://www.motionbox.com

Duração maxima dos videos no Motionbox é de aproximadamente 30 min de video. O site visa vídeos familiares, mas se você decidir fazer um curta para sua tia, quem reclama? Recebe-se 300 Mb para armazenamentos, ferramentas de edição, e possibilidade de criação de DVDs e flipbooks. Pode-se optar por conta Premium, que é sem restrição de tamanho e duração, sem propaganda, com formatos HD, player em fullscreen e download de copias do vídeo em alta qualidade para amigos.


6- http://www.viddler.com

Até 500 Mb por video. Formatos: avi .dv .mov .qt .mpg .mpg2 .mpeg2 .mpeg4 .mp4 .3gp .3g2 .asf .wmv .flv.


7- http://www.dailymotion.com/br

Duração máxima de 20 min, limitados em 150 Mb e resoluções de 640 x 480 ou 320 x 240 px. Para um vídeo de 5MB com conexão ADSL 512, o envio conclui em ao menos 5 minutos. Há limitações de conteúdo: violência, racismo, propriedade intelectual, pornografia emanifestações de ódio.


8- http://www.nelsok.com/premium

Diferentes pacotes variam a resolução, o tamanho e o CODEC. O gratuito é para videos com 470 x 370 px, 200 Mb e flv2 (embora o site diz suportar avi, flv, mpg, mpeg, mov, mp4, mpe, wmv, 3gp, mov).


9- http://www.smugmug.com/

É pago. O custo anual é de 149,95 doletas para o plano Professional - qualidade HD.


10- http://blip.tv/

Aceita-se videos até 1 Gb, MAS é recomendado até 100 Mb, por inúmeras razões, dentre as quais pepinos na hora do transcoding para Flash, como ELES DIZEM. Aí vem o papinho: "Pode ser mandado em qualquer formato, mas preferimos .mov e .wmv, comprimidos. Por favor não nos envie DV e MPEG-2 descomprimidos.". Ou seja: Tá preso, mas tá solto. É de graça, mas pagando $96,00 por 14 meses consegue-se benefícios da pro account http://www.blip.tv/faq/pro/ .


11- http://www.revver.com/

"Nós não temos um limite de compressão de vídeo contanto que seu arquivo esteja abaixo de 100MB". Formatos: MOV, MPEG, MPG, MP4, WMV, ASF, AVI (incluindo DIVX). Os videos devem ter no mínimo 4 segundos, por conta da propaganda.


12- http://br.video.yahoo.com

"Seu vídeo precisa ter menos de 150 MB e deve estar em formato WMV, ASF, QT, MOD, MOV, MPG, 3GP, 3GP2 ou AVI, além de possuir áudio."


13- http://www.movedigital.com/

30 dias grátis com 1 Gb de armazenamento e 10 Gb de bandwitch. Quando pago, é bem pago: http://www.movedigital.com/mover/choosePlan , mas oferece grande armazenamento e uma série de outra facilidades que o distingue dos demais, como HD, múltiplas ferramentas de conversão para múltiplos formatos (RSS, iTunes, Mobile, Flash e BitTorrent). Formatos aceitos: MPG, AVI, MOV, WMV, 3GP, DIVX, etc. (video); ZIP, EXE, RAR, DMG, SIT, BIN, TAR, GZ, etc. (jogos e softwares); PDF, DOC, PostScript, etc. (documentos); MP3, WAV, WMA, etc. (música); ISO (imagem de CD); JPG, BMP, GIF, PNG, etc. (fotografias e ilustrações); SWF (Flash); e-books.


14- http://www.videocommunity.com

Nos primeiros 30 dias é grátis, depois parece rolar uns tostões. Não consegui mais informações.

***

Lembrando que existem processadores de computador que ainda não reproduzem video HD. Deu uma gaguejada, já sabe.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Cinema digital (Parte 2) – Subida de categoria?

Em cinema, imagens possuem um indicador de relação de contraste, o dynamic range. Trata-se de um registro de informações de detalhes em altas e baixas luzes na cena. No vídeo digital de alta-definição (HDV), candidatado a substituto da película, geralmente a relação de contraste é de 500 para 1 (500:1). O filme negativo colorido, a amada película, tem relação de 1.000.000:1. Em suma: 1.000.000 de tonalidades em cena? O HDV vai captar apenas 5% disso, ou seja, menor capacidade de registro de detalhes na imagem, forçando a fotografia a fazer opções motivada por restrição.

Antes que você se apresse em descartar o HDV de uma vez de sua preferência estética, é bom ter cuidado. Primeiro porque as informações acima citadas foram extraídas de um documento de 28/4/2005, o “The future of HDTV is film”, publicado pela Kodak, uma das maiores, se não a maior interessada em que o registro da câmera de cinema continue sendo em negativo. Depois porque a tecnologia digital dá passos largos para alcançar a defasagem citada e outras mais em relação à película, e com muita certeza disso se dar sem abrir mão das vantagens que o formato possui hoje. Dentre elas, sem dúvida, a eliminação de negativo. Valores de tabela:

° Lata de negativo 35 mm, Kodak Vision3 (5219) com 4 minutos de duração: R$ 580,00 a unidade, mais R$ 288,00 para a revelação – Um longa metragem não costuma ultrapassar 120 minutos, no entanto, as horas de filmagem excedem a duração de um longa-metragem. “Olga”, de Jayme Monjardim teve 12 horas de filmagem; “Xuxa gêmeas”, dirigido por Jorge Fernando, 90 horas de filmagem; “Entreatos”, de João Moreira Salles, 170 horas. Um filme em 35 mm, com 50 horas de filmagem, consome 750 latas, ou seja, R$ 651.000,00 - incluída a revelação.

° Lata de negativo 16 mm, Kodak Vision3 (7219): R$ 325,00 a unidade, mais R$ 288,00 para a revelação – Para o mesmo caso do exemplo anterior, mas para 16 mm, o valor é R$ 459.750,00 - incluída a revelação.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Cinema digital (Parte 1) – Digital já? Não; já, já.



Divergentes opiniões se manifestam em duas instâncias do cinema a respeito da quiçá vindoura hegemonia digital.

Numa delas, a de projeção, há partidários do digital por baratear e facilitar a distribuição. Já os discordantes dizem que, em primeiro lugar, a coisa não é bem projeção, e depois, que o resultado não é satisfatório; perde-se em cor, luminosidade, contraste, enfim, detalhamento de imagem. Dos dois lados encontram-se técnicos, distribuidores, exibidores, espectadores, produtores e profissionais.

A outra instância corresponde a da produção e da realização. Concordantes falam de barateamento sem perda de qualidade, facilidade de distribuição e exibição. Porém, quem é contra diz que o digital ainda está aquém de oferecer o que a película permite. Encontram-se tais posturas nas mesmas pessoas da instância anterior, mas quem parece se condoer mais pelo porvir que afetará a instância, são profissionais e espectadores. Cinema, para o profissional e o espectador consciente (de olho e mente atentos para não ser presa de interesses que tratam pessoas como ponto de venda), não é só uma estória bem contada para entreter em tempo vago.

Implanta-se o digital? Mantenha-se a película?

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Em quadros - I











Assisti ao “A aventura (L’avventura – 1960 – ITA/FRA)” do Antonioni. Filmão. Vai para o trono.

°

Nunca tinha visto nada do Ken Loach, mas muito ouvi falar. Me despojei da opinião alheia no que diz respeito ao cara e comecei a tomar contato com o cinema dele. “Mundo livre (It’s a free world... – ING/ITA/ESP/ALE/POL – 2007)” é posudo, sonífero, esquemático, reflete uma relevância artificial da vida e quem paga pecados nos assistencialismos da vida ou é ativistinha político deve amar. Se não amam, o Loach é mesmo muito fraco, pois nem os públicos imediatos dele engolem o que o inglês gerou. Nisso, não adianta, quem acha o filme espetacular viu onde não existe, prevalecendo gosto duvidoso, não a certeza do que há no filme. Talvez eu dê mais algumas chances a Loach (por enquanto duas. No máximo). Volto às opiniões que deixei temporariamente de lado, já achando que vou preferi-las.

°

“Eles vivem (They live – 1988 – EUA)” do John Carpenter é um filme um tanto incompreendido por um grupo: os conspiracionistas cryptonerds, que não assumem seu medo do que os olhos não alcançam, e que possuem a mania de associar qualquer coisa com o assunto que suspeitam uma conspiração por trás – aí um dado menor, de descabida associação, se transforma em informação e logo é tornada prova da existência da trama oculta. O filme de Carpenter virou um tipo de guia da subliminaridade social (até a classificação é absurda – subliminar pede inconsciência, e não estar despercebido da existência de algo passado numa comunicação), e a incompreensão citada desvalorizou o filme e reduziu sua importância para um grande público. Mas achar que o filme é importante para o público maior não é ver importância em algo menor com os criptonerds fazem? Não. Mais importante do que supostos subterfúgios acoplados na proposta de venda e do que alojar interesses de alguns em muitos, muitas comunicações são tirânicas no trato de seu público. A questão no filme de Carpenter não é a denúncia, mas a limitação ocular diante dos fatos. É preciso não apenas a capacitação da consciência sã para compreender a realidade, mas o esforço conjunto de outras consciências, já conhecedoras do que se ignora coletivamente. A transformação dessa realidade pode passar por movimentos políticos, rebeldia, inconformismo, sede de justiça, mas o que a efetua são medidas corajosas, desesperadas, trágicas, extremas, das quais não se sobrevive para ensinar as próximas gerações.

°

François Ozon é competente. Por isso uns já se apressaram a se apropriar dele como medalhão do cinema gay. Faça o favor, os idealizadores e realizadores é que são coisa? Cinema tem sexo, tem raça, tem credo? Se tiver o nome não é cinema, é propaganda – e chata pacas, porque tenta convencer em muito mais tempo do que 30 segundos. “Swimming pool – à beira da piscina (Swimming pool – 2003 – FRA/ING)” é legal, mas ainda não dá pra ver toda a competência de Ozon além da técnica formal e da paixão que ele tem por cinema. Não penso que daria um filme grandioso, pois a estória traz no bojo a contenção em patamares inferiores. Isso nem sempre é problema. Técnica não é tudo e Ozon ficou contido nela; ficou também limitado ao seu prazer de filmar.

°

quarta-feira, 12 de março de 2008

Metallica - Whiskey in the jar (music video)

.

Thin Lizzy - Whiskey In The Jar

.

Whiskey In The Jar - The Dubliners (Live)

As I was a goin' over the far famed Kerry mountains
I met with captain Farrell and his money he was counting
I first produced my pistol and I then produced my rapier
Saying "Stand and deliver" for he were a bold deceiver

(Chorus)
Mush-a ring dum-a do dum-a da
Wack fall the daddy-o, wack fall the daddy-o
There's whiskey in the jar

I counted out his money and it made a pretty penny
I put it in me pocket and I took it home to Jenny
She sighed and she swore that she never would deceive me
But the devil take the women for they never can be easy

(Chorus)

I went up to my chamber, all for to take a slumber
I dreamt of gold and jewels and for sure 't was no wonder
But Jenny blew me charges and she filled them up with water
Then sent for captain Farrell to be ready for the slaughter

(Chorus)

And 't was early in the morning, just before I rose to travel
Up comes a band of footmen and likewise captain Farrell
I first produced me pistol for she stole away me rapier
I couldn't shoot the water, so a prisoner I was taken

(Chorus)

There's some take delight in the carriages a rolling
and others take delight in the hurling and the bowling
but I take delight in the juice of the barley
and courting pretty fair maids in the morning bright and early

(Chorus)

And if anyone can aid me 't is my brother in the army
If I can find his station in Cork or in Killarney
And if he'll go with me, we'll go rovin' through Killkenney
And I'm sure he'll treat me better than my own a-sporting Jenny

(Chorus 2x)

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Você tem sede de que?

Por conta dessa matéria http://br.noticias.yahoo.com/s/afp/080201/mundo/eua_pedofilia_igreja , alguém já bradou na internet que é estranho o ocultamente de imagem e nome do criminoso. Por que?

Deve-se sempre punir o criminoso independente de instituição. Só que não tem sido praxe vigorar a punição ao crime se, absurdamente, ele se atrela a imagem de instituições. Não há novidade nisso, mas atualmente se extrapola, e é engano pensar que isso só se dá relacionado a instituições religiosas. O Brasil é exemplo: acontece em instituições privadas, não-governamentais, governamentais, mas sem parecer generalizante (como alguns ainda gostam de pensar) redes de TV, política, personalidades, e a lista se estende, não infinitamente.

A omissão de informações provoca um efeito colateral sério, dada à velocidade e a multiplicidade de canais de informação. Mas é engano pensar que o pior é omitir a imagem dos criminosos, pois acontece pior: omite-se o desfecho dos casos; omite-se a punição.

Só que a situação ainda se agrava: por exemplo, aqui no Brasil (falo do que vejo, mas se sabe que a questão não é local), pra muita gente, tem se confundido justiça com vingança; reina uma sede de sangue, até mesmo em casos parcialmente apurados - o povo aprendeu a reagir, mas agir que é bom, e agir certo que é o necessário, não.

Que conseqüências, então, tem a simples revelação da imagem de um criminoso? As mais desoladoras que o tempo presente pode conceber, infelizmente.

Se de um lado se acoberta criminosos, do outro, o nosso, não é surpresa abandonar a justiça, e ficamos assim há um passo de terminar de degradar um quadro já complicado. Criminosos, nesse caso, se procedermos sem cuidado, através de um ódio justificável para alguns, seremos nós. Para nós mesmos, e mais até de do que quem cometeu ato criminoso intencionalmente.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Ultraseven X

Às vezes se deseja algo simples, algo que não peça muita inteligência. É nessas horas que percebemos o quão tirano pode ser um mero entretenimento; quando ele nos subestima; ele se eleva acima de nós, e abusando, faz de tudo pra nos prender a algo que sabemos bobo. Aí a gente cai em si e lembra que coisas é que devem ser subjugadas, e não o contrário. Munido dessa certeza, então, tentamos de novo, e com coisas que acéfalas se apresentam, para elas nos fazemos presa fácil de novo. Em resumo: há prazer ao cair numa armadilha, desde que percebamos um fio de interesse nela. Em síntese: revirando o baú da memória infantil pela web, vê-se que os brinquedos de outrora nesse século, ganham roupagem nova, te interessam, e brincam com você. E não é que o negócio vai ficando legal? Raios!

Ultraseven X é isso: chupado de tudo que fez sucesso (inclusive ele mesmo), apostando em dar um upgrade em seu público com coisas mais relevantes (quase adultas), trazendo elementos que são marca das séries, como heroísmos contra um invasor, produção até certo ponto elaborada, tramas curiosas e narrativa honesta, e o sempre esforço em realizar efeitos visuais tão caprichados quanto se possa. Enfim, uma bosta, mas você gosta - se fizer ressalvas. O primeiro episódio é basicão, o segundo melhora. Só não é recomendável uso prolongado; é capaz de bater um arrependimento.

Os episódios são no Veoh e tem qualidade pra ver em tela cheia. Legendas em espanhol.

Ultraseven X - ep. 02