quinta-feira, 17 de abril de 2008

Em quadros - I











Assisti ao “A aventura (L’avventura – 1960 – ITA/FRA)” do Antonioni. Filmão. Vai para o trono.

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Nunca tinha visto nada do Ken Loach, mas muito ouvi falar. Me despojei da opinião alheia no que diz respeito ao cara e comecei a tomar contato com o cinema dele. “Mundo livre (It’s a free world... – ING/ITA/ESP/ALE/POL – 2007)” é posudo, sonífero, esquemático, reflete uma relevância artificial da vida e quem paga pecados nos assistencialismos da vida ou é ativistinha político deve amar. Se não amam, o Loach é mesmo muito fraco, pois nem os públicos imediatos dele engolem o que o inglês gerou. Nisso, não adianta, quem acha o filme espetacular viu onde não existe, prevalecendo gosto duvidoso, não a certeza do que há no filme. Talvez eu dê mais algumas chances a Loach (por enquanto duas. No máximo). Volto às opiniões que deixei temporariamente de lado, já achando que vou preferi-las.

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“Eles vivem (They live – 1988 – EUA)” do John Carpenter é um filme um tanto incompreendido por um grupo: os conspiracionistas cryptonerds, que não assumem seu medo do que os olhos não alcançam, e que possuem a mania de associar qualquer coisa com o assunto que suspeitam uma conspiração por trás – aí um dado menor, de descabida associação, se transforma em informação e logo é tornada prova da existência da trama oculta. O filme de Carpenter virou um tipo de guia da subliminaridade social (até a classificação é absurda – subliminar pede inconsciência, e não estar despercebido da existência de algo passado numa comunicação), e a incompreensão citada desvalorizou o filme e reduziu sua importância para um grande público. Mas achar que o filme é importante para o público maior não é ver importância em algo menor com os criptonerds fazem? Não. Mais importante do que supostos subterfúgios acoplados na proposta de venda e do que alojar interesses de alguns em muitos, muitas comunicações são tirânicas no trato de seu público. A questão no filme de Carpenter não é a denúncia, mas a limitação ocular diante dos fatos. É preciso não apenas a capacitação da consciência sã para compreender a realidade, mas o esforço conjunto de outras consciências, já conhecedoras do que se ignora coletivamente. A transformação dessa realidade pode passar por movimentos políticos, rebeldia, inconformismo, sede de justiça, mas o que a efetua são medidas corajosas, desesperadas, trágicas, extremas, das quais não se sobrevive para ensinar as próximas gerações.

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François Ozon é competente. Por isso uns já se apressaram a se apropriar dele como medalhão do cinema gay. Faça o favor, os idealizadores e realizadores é que são coisa? Cinema tem sexo, tem raça, tem credo? Se tiver o nome não é cinema, é propaganda – e chata pacas, porque tenta convencer em muito mais tempo do que 30 segundos. “Swimming pool – à beira da piscina (Swimming pool – 2003 – FRA/ING)” é legal, mas ainda não dá pra ver toda a competência de Ozon além da técnica formal e da paixão que ele tem por cinema. Não penso que daria um filme grandioso, pois a estória traz no bojo a contenção em patamares inferiores. Isso nem sempre é problema. Técnica não é tudo e Ozon ficou contido nela; ficou também limitado ao seu prazer de filmar.

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