quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cinema: olhos do homem

Cruzar mídias e convergir variadas para alcançar o público não é novidade em propaganda. Algo mais novo é o olhar digital (antes só mecânico e químico) substituindo a experiência presencial.

Não que seja uma abominação uma teleconferência, mas daí muita gente se desfazer, por exemplo, no prazer de ler, de ir a uma livraria - pois se deixa de ir a uma livraria talvez pelo preço, oportunidade de compra ou comodidade de receber o livro comprado pela interenet - no mínimo indica algo em mutação, ou talvez, algo em vias de entrar em mutação (como alguém da ponta do trampolim a primeira vez, naquele instante em que o corpo cogita: altura/água). Nada de conservadorismo.

Vão dizer que usar o audiovisual da web faz alcançar o público, cada vez mais enxuto e seleto grupo de leitores de livros, de um modo que proporciona resultados. Isto, se o resultado retornar, e para tanto, o público tem de aceitá-lo como condutor de interesses que também se cruzam.

Só que se vingar o novo uso da mídia, não estará ela substituindo um processo não fundamental de compra, mas de expriência presencial? A arte também proporciona experiência ao ser humano, mas propaganda não é arte, nem toda bela produção audiovisual. Não estará a nova mídia superestimando o olhar, e começando a alocar nele o principal das experências antes presenciais, tácteis? O que muda? O que melhora?

Se ainda não temos respostas, ao menos novas fronteiras de trabalho audiovisual começam a surgir. Umas, mediante animação em After Effects ou Flash, por exemplo, utilizando em conjunto sonorização e algum desenho de som (a pós produção é a produção), como no caso dos comics norte-americanos da Marvel, que agora vive de megacruzamentos entre as diversas mídias que são cada uma de suas publicações - e isso não é novidade para a Marvel, na verdade o que se dá hoje é outra exacerbação; a editora vive de crossover seguido de crossover, onde as mídias-personagens não mais se desenvolvem tanto para algo novo, mas mais desempenham uma teia entre si para a escora de temas ou enredos.





Outras, pelo tradicional, mais custoso (mas de melhores resultados finais) modo de produção cinematográfico, em todas as fases de criação e produção, e também na pós-produção, redundam em filmes com a duração quase 6 vezes maior que os tradicionais comerciais de TV. Trailers de livros, que já desenham para você, antes de você imaginar durante a leitura: a imagem é superestimada então, fora do homem, e nem tanto nele (imaginar a leitura de um desses livros vem com uma dosesinha de condicionamento - coisa que nem sempre a mais vil das propagandas faz); tanto é que mais do que livro, acaba sendo o audiovisual que atrai o leitor - estatísticas apontarão o incremento da decepção comum a muitos livros no ato de ler?




A ferramenta de marketing já está sendo adotada no Brasil, em trailer para "O Seminarista", de Rubem Fonseca. Interessante notar que a decupagem deste já não age tão substitutivamente na relação imaginação-leitura, parecendo até proporcionar um via adicional a imaginação - mas será que o trailer não deveria ser visto após a leitura, ou ao anteceder a releitura do livro?






Não gostou do texto? Achou ele futurologista pra burro? Tudo bem, um dia, se a imaginação cair em desuso, quem sabe o texto não fica cult ou volta a moda?

Deus me livre! Qualquer hora eu deleto este post.

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