sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Sham 69 - If The Kids Are United



Banda que reúne sob o mesmo gosto grupos inimigos. E, bem, pense o que quiser sobre essa situação. O que importa é que é uma música genial, de uma época em que músicas punk eram rock 'n roll genuíno, feitas pra multidões cantarem junto sob um objetivo comum (tem até um ar das músicas que as torcidas em estádio de futebol cantam pelo seu time - não é a toa que o Cockeney Rejects e outro bolo de bandas boas se valeram muito bem da idéia). Hoje, muito das músicas que a molecada quer que seja punk, pega o caminho inverso; cada vez menos rock' n roll, cada um cantando seus próprios sentimentalismos, sem a menor unidade, a não ser pela constatação de que surgem dois grupos involuntários: um maior, de individuos espectadores, e outro menor, de individuos no palco.

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

“Efeito borboleta (The butterfly effect – EUA – 2004)"


“O acaso é, talvez, o pseudônimo de Deus, quando não deseja assinar.”
Theophile Gautier

Quando Evan Treborn era garoto seu médico recomendou que ele registrasse em diário os momentos da vida. Era uma medida contra insistentes lapsos de memória atribuídos a uma misteriosa doença.

Da infância até a o ínício da maturidade Evan teve uma vida de superação e nela os diários desempenharam importante papel. Os diários sempre estiveram com ele, mas depois de seis anos sem nenhum lapso, Evan se dá conta de que não se lembra claramente de um certo fato.

Ele recorre então a pessoas de seu passado para estabelecer esse ponto na memória, mas o remexer nos fatos mais antigos desencadeia uma tragédia que faz com que Evan mergulhe em seus diários em busca da resposta.

O mergulhar nas memórias desencadeia o impensado e agora o que resta a Evan é apenas busca em meio ao caos.

Essa na verdade é a primeira porção que se segue depois dos dizeres “Algo tão pequeno como uma borboleta pode causar um tufão do outro lado do mundo.”, pinçado da Teoria do Caos de Edward Lorenz pelos roteiristas e diretores Eric Bress e J. Mackye Gruber, roteiristas de “Premonição 2 (Final destination 2 – EUA – 2003)”, no filme “Efeito borboleta (The butterfly effect – EUA – 2004).

Muita gente viu e gostou. A crítica não detestou e viu até um interesse no modo como se trabalha a questão da perda de memória, por isso conseguiu traçar certa identificação com os cineastas pelos quais a língua da crítica vive cada vez mais engatilhada pra disparar “Gênio!”.

Não se pode negar que o filme chama a atenção em alguns aspectos, e que agrada a quem nunca viu ou se desacostumou a aparentes ousadias no roteiro. Mas é um filme que não se arrisca a muita coisa. Se há um cuidado ali é de seguir o sacrossanto roteiro; trabalhar cenas, elenco, fotografia, som só é prioridade num nível de obediência ao roteiro, à deusa estória. Fora o roteiro, tudo é risco. O básico é que é confortável. Pena não ter cinto de segurança quando se caminha pela rua.

A realização se dá num beabá cinematográfico, e isso é bom para os realizadores, pois previne o filme de soar tatibitante. Ele é seguro e quem é espectador pode ver tranqüilo, pois não requer formação um pouco mais aprofundada em audiovisual. É assim para não gerar nenhum empecilho para a boa compreensão do roteiro, o cofre do valioso tesouro que chamam de estória.

Valioso por que é na estória, ou melhor, em quão imaginativa ela pode ser, é que os grandes estúdios de Holywood vêem uma tábua de salvação para seus negócios, e se essa tábua der ao público o que ele almeja, melhor tábua será.

Esse novo cinema que vem surgindo em Holywood, em que parte da matéria-prima cheira a teen, visa um público que é visto como tendo a necessidade de uma nova educação cinematográfica, o mesmo que vai consumir a criativa Holywood daqui a alguns anos. Indústria que conforme a visão de seus patriarcas, para assegurar seu futuro, precisa transpirar criatividade em tudo, na técnica, mas principalmente no roteiro, que deve conter tudo o que há de melhor direto das sessões de brainstorm. O filme holywoodiano é desde já aquele que impõe a ordem sobre o caótico universo das idéias, e, portanto, onde a ilusão da imaginação que é fértil, e por isso inteligente, atua cada vez mais intensamente.

Reflexo involuntário do que Holywood aspira para seu futuro, e desse jeito de si mesmo, é também no que resulta “Efeito borboleta”.

“Efeito borboleta” quer ter um caráter de protótipo. Protótipos são concebidos no campo dos projetos, são pensados como modelos que originarão outros, e por isso possuem sobre si muito mais carga intelectual que os que dele derivam. Ainda que não exista muita separação entre teoria e prática, pode-se dizer que ele tem muito mais de teoria do que de prática. Não é estranho que o filme seja todo apoiado na porção projeto do cinema e na Teoria do Caos.

A Teoria do Caos de Edward Lorenz trata da previsão matemática do acaso, pela ação e a interação de inúmeros elementos de forma aleatória. O filme optou pela parte inicial da teoria, o tal Efeito Borboleta de onde vem o título do filme, e que se refere à impossibilidade de uma previsão perfeita.

O filme até ganha um alargamento quando se visita o conteúdo incial da teoria de Lorenz, pois as ações de Evan ganham a justificativa de que, sob o comando de alguém humano, incapaz de prever completamente o efeito de suas ações, as constantes intervenções na realidade se tornam pertinentes.

Por outro lado, o filme, ao optar por evitar a incorporação do randômico e do acaso presentes no restante da teoria, sempre próximos das ações humanas – e que provocam efeitos que escapam ao controle pela simples incapacidade humana de monitorar o todo – confere ao protogonista um aspecto também divino que por várias vezes sobrepõe o humano. É com se Evan fosse um deus desprovido de ubiquidade e com onisciência defeituosa; ele pode tudo, mas seu motor é o desejo e a teimosia.

Evan, como deus defeituoso, se coloca acima do acaso. E ignorando o acaso se diz humano quando todas as suas ações se assemelham à divinas, e vice-versa. Como essa não é uma ocilação que contribui para o personagem, pois um olhar mais acurado vai sempre perceber que há algo em descompasso (a atenção do espectador é presa no filme apenas porque nem ele nem Evan conseguem antecipar as características da próxima alteração de realidade), o resultado não é outro se não um constante tom de absurdo desde que Evan descobre do que é capaz.

Em “Efeito borboleta” o absurdo pende para o ridículo, não para o fantástico, que se aliementa da realidade; o absurdo precisa estar acima da realidade.

Este absurdo que salta aos olhos vai desde a insatisfação egoísta do que acontece ao eu do protagonista, até a insatisfação em relação ao outro. E entre os dois pólos está: à mulher desejada por todos num ambiente de aceitação moral promove amor, num ambiente de recriminação moral promove lamento e degradação; a rejeição de amizades que não se emparelham ao ideal de socialmente aceito ou flertam com ou se insiram no marginal; na realidade desejada e a todo custo buscada o eu do protagonista não cabe doente, mutilado, louco, mas pode se acostumar e entender como normais certas prerrogativas de posição quando aprecia esta; o sacrifício do que o protagonista ama, em nome do bem do que ama, mas sem sofrimento profundo, pois o sofrimento de verniz altruísta dele ao menos lhe traz uma recompensa. Ou seja, depois que a guerra acabar e o mundo for nosso, todos reconhecerão o valor dos campos de concentração – diria Evan se num filme ambientado na Segunda Guerra.

A jornada do herói-tiranete Evan está imersa no contraste que anda de mãos dadas com o repúdio a tudo o que é externo – repúdio a tudo e todos até que Evan estabeleça sua vontade. Nesse contraste em que o protagonista é perfeito e o resto não, o exterior é lugar impuro e precisa urgentemente de mudança, mas esta só pode vir através do interior de Evan, em que ele mesmo é o agente da mudança. Nada serve, a não ser o protagonista.

Olhando Evan do lado de fora de sua mente, tudo em “Efeito borboleta” assume uma outra configuração, da mesma maneira que a concepção de mundo de Evan é invertida. Fora dessa ficção labiríntica que a todo o tempo seduz (chantageia?) o espectador com a saída, aqui no dia-a-dia da vida dos espectadores, as coisas acontecem diferente. Não me refiro ao fato de ninguém ter o poder sobrenatural de Evan.

Fora do filme o que ocorre é que, se há algo na realidade do ser humano que o desagrada, ele interioriza o problema, gesta idéias e depois age. Isto é, a mudança tem início interiormente, para depois atingir a realidade pelos atos, e aí sim verificar a mudança na realidade.

Em “Efeito borboleta” protagonista e filme entendem por ação tudo o que acontece internamente, seja no campo das memórias ou do desejo, e isso basta para afetar a realidade externa, entendendo ser mais do que suficiente para tudo apenas a ação inicial interna.

Segundo o filme é bem possível que as próximas revoluções no mundo se dariam assim: cada pessoa agindo em si mesma, só em si, e ainda que façam pelos demais apenas o que cada uma considera o melhor, o que importa mesmo é que cada um está fazendo algo por alguém. E isso já bastaria.

Tudo isso também explicaria o fato de muita gente ter apreciado um filme cinematograficamente médio, problemático nas posturas diante das questões que suscita. Problemático, pois uma vez detectada uma característica letárgica, digamos, em seu público, fez dela trampolim para a aceitação do filme e deste apenas mais um produto holywoodiano em que espectador é público-alvo, desde o início da realização fílmica.

Reflexo involuntário do que muita gente deseja intimamente, e que expõe uma falsa idéia e uma preguiça em relação ao que se refere à atividade transformadora, é também no que resulta “Efeito borboleta”.

Um filme que abriga um ponto de ancoragem e identificação para uma faceta burra da sociedade, ponto que se mascara de ação altruísta, e que ao mesmo tempo é um termômetro de insensibilidade e estupidez dela.g


Sobre Teoria do Caos e Efeito Borboleta:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do_caos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_do_Caos#Efeito_Borboleta
http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_borboleta
Site do filme:
http://www.butterflyeffectmovie.com/2003/
Algumas outras visões e opiniões:
http://www.contracampo.com.br/62/brilhoborboleta.htm
http://cinediario.blogspot.com/2004_07_01_cinediario_archive.html
http://adorocinema.cidadeinternet.com.br/filmes/efeito-borboleta/efeito-borboleta.asp

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Xavier+Glauber

“No universo de Glauber, as qualidades do intelectual não estão nas disciplinas do organizador ou na paciência do pedagogo sempre disposto a esclarecer pelo verbo. Estão na coragem da agressão que gera catarse pela violência, que trabalha o inconsciente. Nesse espaço da agressão move-se Paulo Martins. E é nítida a extensão do seu papel no intelectual provocador de Câncer, cujo deboche leva o oprimido à exasperação e à revolta.”

Ismail Xavier, em Glauber Rocha: o desejo da história, no livro Cinema brasileiro moderno.

Ismail Xavier, Glauber Rocha, Glauce Rocha e Jardel Filho,
o Paulo Martins de Terra em transe

segunda-feira, 2 de outubro de 2006

Justapondo – 1

Na tarde de domingo (1 de outubro de 2006) a TV Cultura exibia a reprise de seu programa Vitrine, quando lá pelas tantas, numa das partes da entrevista com o cineasta/crítico político Arnaldo Jabor, este começa a tecer suas considerações sobre Rio de Janeiro e São Paulo. A coisa saiu mais ou menos assim: “Na verdade o carioca é que é otário. O paulista é o esperto. Como escreveu tal cara*, no Rio a burguesia foi substituída pela boemia; em São Paulo a burguesia deu lugar ao proletariado. Aqui em São Paulo se exige muito mais do cidadão, se aprende muito mais. No Rio, tem o que? Uma indústriazinha fraca, carnaval (...).”.

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Na noite de domingo (1 de outubro de 2006), madrugada iniciando, mais um daqueles boletins de apuração das eleições da TV Globo (que começaram logo depois do término das votações, e passavam uma afobação enervante em se saber os resultados. A freqüência de interrupções na programação deu a entender que nosso ver televisão estava gago ou tatibitante – a cada 3 ou 4% de apuração uma nova interrupção): “Os 4 candidatos a deputado federal mais votados em São Paulo foram: Paulo Maluf - PP (
http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2006/eleicoes/candidatos-deputado_federal-sp-1111.shtml e veja no último), Celso Russomanno - PP(http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2006/eleicoes/candidatos-deputado_federal-sp-1188.shtml e veja no último), Clodovil - PTC(http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2006/eleicoes/candidatos-deputado_federal-sp-3611.shtml e http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u84499.shtml), Enéas – PRONA(http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2006/eleicoes/candidatos-deputado_federal-sp-5656.shtml e veja no último).”

Mais informações importantes sobre o quarteto: http://perfil.transparencia.org.br g

*Essa falha é minha mesmo, que se esqueceu do nome do escritor – doações de Fosfosol são aceitas.
OBS: A adição dos links também é minha. Nenhuma das transmissões citou-os.

quarta-feira, 27 de setembro de 2006

25a Mostra de Cinema Brasileiro em São Bernardo do Campo

A Secretaria de Cultura de São Bernardo do Campo vem com mais uma Mostra de Cinema Brasileiro na cidade. Nesta 25ª edição, que vai de 28 de setembro a 29 de outubro, ficaram de fora filmes importantes como "Crime delicado", "Árido movie", “A concepção” e outros que certamente despertariam interesse maior que “2 filhos de Francisco” e “O coronel e o lobisomem” – que gente pra caramba já viu, e por causa de seus montes de cópias para cinema e altas vendas em DVD poderiam muito bem ceder lugar para filmes que o público tem menos acesso. Mas fazer o que se a Secretaria de Cultura quer caçar seus níqueis a custa de migalhas?

O ingresso custa R$ 3,00 e é grátis para maiores de 50 anos. Os horários estão aí embaixo, mas não custa lembrar que cada um dos filmes tem 3 seções, na quinta ou na sexta, e depois no sábado e no domingo. As exibições acontecem no Teatro Cacilda Becker no Paço Municipal, Praça Samuel Sabatini. São Bernardo do Campo / SP Telefone: (11) 4348-1081.

Setembro

BOLEIROS 2 – VENCEDORES E VENCIDOS (2006) – 86 min
28 quinta 20h, 30 sábado 20h, 1/out domingo 16h
Classificação indicativa: 12 anos.
Antecedendo cada exibição deste filme, o curta-metragem FUTEBOLISTICAMENTE, ficção de 13 minutos com direção de Daniel Boesel Lopes e Rodolfo Monteiro Pelegrin.
Críticas:
http://revistacinetica.com.br/boleiros2.htm
www.cineimperfeito.com.br/emcartaz.asp?pag=1&id=443

TAPETE VERMELHO (2006) – 100 min
29 sexta 20h, 30 sábado 16h, 1/out domingo 20h
Classificação indicativa: 12 anos
Antecedendo cada exibição deste filme, o curta-metragem DOIS TONS, ficção de 16 minutos com direção de Caetano Gottardi.
Críticas:
http://www.contracampo.com.br/79/tapetevermelho.htm
http://revistacinetica.com.br/tapetevermelho.htm

Outubro

BENDITO FRUTO (2004) – 90 min
5 quinta 20h, 7 sábado 20h, 8 domingo 16h
Classificação indicativa: 12 anos.
Antecedendo cada exibição deste filme, o curta-metragem ALICE, de Rafael Gomes.
Crítica:
http://www.contracampo.com.br/71/benditofruto.htm

O FIM E O PRINCÍPIO (2005) – 110 min
6 sexta 20h, 7 sábado 16h, 8 domingo 20h
Classificação indicativa: 12 anos.
Antecedendo cada exibição deste filme, o curta-metragem ÍMPAR PAR, de Esmir Filho.
Crítica:
http://www.contracampo.com.br/77/ofimeoprincipio.htm

CIDADE BAIXA (2005) – 93 min
12 quinta 20h, 14 sábado 20h, 15 domingo 16h
Classificação indicativa: 18 anos.
Antecedendo cada exibição deste filme, o curta-metragem EU TE DAREI O CÉU, de Afonso Poyart.
Crítica:
http://www.contracampo.com.br/75/criticacidadebaixa.htm

2 FILHOS DE FRANCISCO (2005) – 132 min
13 sexta 20h, 14 sábado 16h, 15 domingo 20h
Classificação indicativa: 12 anos.
Antecedendo cada exibição deste filme, o curta-metragem GASOLINA COMUM, de Marcelo "Tintin" Trotta.
Críticas:
http://www.contracampo.com.br/74/2filhos2.htm
http://www.contracampo.com.br/74/filhosdefrancisco.htm

A PESSOA É PARA O QUE NASCE (2004) – 84 min
19 quinta 20h, 21 sábado 20h, 22 domingo 16h
Classificação indicativa: 12 anos.
Antecedendo cada exibição deste filme, o curta-metragem HISTORIETAS ASSOMBRADAS (PARA CRIANÇAS MALCRIADAS), de Victor Hugo Borges.
Críticas:
http://www.contracampo.com.br/72/pessoaeextremosul.htm

VIDA DE MENINA (2004) – 101 min
20 sexta 20h, 21 sábado 16h, 22 domingo 20h
Classificação indicativa: 12 anos.
Antecedendo cada exibição deste filme, o curta-metragem A MENINA, O ESPANTALHO E O CURUPIRA, de Ric Oliveira e Clemie Blaud.
Crítica:
http://www.contracampo.com.br/64/vidademenina.htm

O CORONEL E O LOBISOMEM (2005) – 106 min
26 quinta 20h, 28 sábado 20h, 29 domingo 16h
Classificação indicativa: 12 anos.
Antecedendo cada exibição deste filme, o curta-metragem CURUPIRA, de Fábio Mendonça e Guilherme Ramalho.
Crítica:
http://www.contracampo.com.br/75/coronellobisomem.htm

CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS (2005) – 90 min
27 sexta 20h, 28 sábado 16h, 29 domingo 20h
Classificação indicativa: 12 anos.
Antecedendo cada exibição deste filme, os curta-metragens 02.CONJUNTO RESIDENCIAL, de Adams Carvalho e Olívia Brenga, e LOOP LOOP, de Victor Hugo Borges.
Crítica:
http://www.contracampo.com.br/75/cinemaaspirinas.htm

terça-feira, 26 de setembro de 2006

As jóias da casa - 1


S. Fuller

G. Romero

D. Cronenberg


A. Ferrara

Blueberry de Moebius

Nas bancas e livrarias ainda é possível achar o retorno da publicação de "Blueberry" (Panini - R$ 22,90 - 100 pgs. - 20,5 x 27,5 cm).

A HQ é criação de Jean-Michel Charlier e Jean "Moebius" Giraud, e já tem mais de 40 anos. Acabou virando filme em 2004 (vivido no cinema por Vincent Cassel e dirigido por Jan Kounen). Estreou nas páginas do semanário Pilote (o mesmo de Asterix) e no começo, na segunda metade do século XIX, ele era apenas Mike Steve Donovan, filho de fazendeiros escravocratas plantadores de algodão na Geórgia, que acabou se tornando o Tenente Blueberry, um oficial vivido, malicioso, de moral oculta e heroísmos baseados em princípios próprios.

A nova primeira edição brasileira corresponde aos números 24 e 25 originalmente publicadas pela Dargaud (de 1995 e 1997, respectivamente), e são a primeira metade do oitavo ciclo de aventuras do protagonista. Aqui texto e arte são de Jean "Moebius" Giraud, motivo mais do que suficiente para desembolsar o preço nada convidativo da edição - e desgraçadamente amenizar um pouco o ultraje pelos 23 paus.

Moebius é gênio, mas talvez sua genialidade seja ainda um pouco ofuscada por intelectualóides que cismam em balizar HQ como arte menor (e que pensam formar a opinião de tudo e todos) e por aqueles que entendem os Comics como via única de HQ. Gente que ofusca a si mesmo. Gente que detesta concordar que há vida inteligente fora de seus círculos.

O fato é que esta edição traz a arte de Moebius em grande forma, e porque não inigualável; ela é detalhista e minuciosa. A decupagem é cuidadosa; ao mergulhar na obra não se fica com a sensação de que faltam cenas no fluir da narrativa e também não se corre o risco de perder-se durante a leitura; está tudo lá no seu devido lugar. Enfado só aparece fisicamente, e nos olhos; a obra não estimula o piscar deles e nem pausas na leitura.g

http://www.blueberry-lesite.com
http://www.texbr.com/blueberry/personagens/blueberry.htm
http://www.texbr.com/blueberry

Um destaque de texto

Uma coisa chama a atenção num bom texto que saiu no domingo (“A modelo, o papa e o lugar público” - 24/9/2006 - Aliás - J6 - O Estado de São Paulo - http://txt.estado.com.br/suplementos/ali/2006/09/24/ali-1.93.19.20060924.13.1.xml): Um destaque no corpo do texto que diz “Por sua natureza, o cristianismo está na origem do culto das imagens”.

Chama a atenção pela aparência de alfinetada por parte de quem escreveu (Stella Senra, doutora em ciências da informação pela Universidade de Paris 2 e autora de O Último Jornalista). Soa assim, pois num primeiro contato com o texto logo se percebe que é uma reflexão sobre a ambigüidade das imagens, que toma como oportunidade os casos do suposto vídeo-invasão do casal Cicarelli-Malzone e o mal-bem-entendido do atual papa.

Indo ao texto a estranheza quanto à frase em destaque não some. Não pelo destaque, mas porque ela ainda parece espremida pelo assunto em questão, como quando as mãos ensaboadas tentam espremer entre si um sabonete e ele pula.

Não é por se tratar dum assunto em que religião e papa figuram que qualquer frase sobre o que se figura serve bem para o que se discute. Caso contrário, discutir transubstanciação, trindade, ou a nacionalidade alemã teriam espaço garantido.

Mas o incômodo mesmo surge, porque a referida frase provoca o mesmo efeito que “o papa é alemão por isso vai provocar uma nova guerra mundial”, caso ela estivesse no texto e por causa de seu teor.
E aí se esbarra no seguinte: Ou quem escreveu fez referência a um outro autor, ou é uma opinião, ou é uma questão pessoal de ódio, ou uma constatação.

Se for referência, e o credito ao autor está ausente, então houve uma falha (ou intenção, podendo ser de outro; revisor, editor, ou sabe-se lá mais quem).

Se estiver como constatação, bem, todo mundo erra e também não existe um doutorado que aborde todas as categorias do conhecimento. Por isso talvez tenha lhe escapado que historicamente o cristianismo é totalmente avesso ao culto das imagens, idolatria, e que no proceder guia-se por fé e não pelo que se vê (II carta de Paulo aos Coríntios, segundo semestre do século 55, 56 ou 57 d.C.). Ignorar esta questão como sendo fundamental ao cristianismo não provoca sua anulação, mas explicita sim, uma situação altamente discutível daquele que adota essas práticas como inerentes ao cristianismo, quando elas não são. Trata-se da imagem ou ilusão de cristão que pessoas fazem de si mesmo quando na verdade estão distantes disso. Se a intenção da frase foi dizer do proceder de alguns cristãos ou de algumas pessoas que se dizem cristãs, isso realmente não fica claro pela frase, mas pode ficar claro por uma qualidade que o texto tem, embora essa frase ainda seja um corpo estranho.

Agora, se é uma opinião ou questão de ódio – bem, para não ficar alheio a uma das vias pela qual o texto passa – por mais erudição e por mais títulos que se tenha, todos temos nossos momentos de dogmatista, até mesmo possíveis detratores de um credo.g

Hillsong United + Diante do Trono (+ Renascer Praise) em SP


No sábado, 23 de Setembro de 2006, esteve se apresentando no Canindé, estádio da quase obituária Portuguesa, o Hillsong United. O Diante do Trono abriu o show, e ao final houve a participação especial do Renascer Praise. Todos bons músicos cristãos com diferentes características. A produção do evento ficou a cargo de Vision Produções e Rafael Reisman Produções.

Não sei ao certo quantas pessoas estiveram lá, (10, 15, 30 mil?), mas tenho achado a repercussão do show bem fraca para quem esperava muito e teve muito. Foi um show vigoroso em todos os termos. O público era bem eclético, bem de acordo com a musicalidade do evento.

Entretanto a organização do evento foi algo no mínimo patético. Para grande quantidade de pessoas esperadas era mais do que necessário os portões abrirem não apenas 2 horas antes do início, mas bem antes. Na hora do início do show 5 mil pessoas ainda estavam do lado de fora, e por isso, por ordem da polícia, o show não poderia iniciar enquanto todas ainda não entrassem. Resultado: 1 hora de atraso para o início (que prejudicou a esquisita participação especial do Renascer Praise, que tocou depois da atração principal para 2% do público).


E não foi apenas isso. O policiamento era escasso e só aumentou mais perto do horário do começo do show. Ou seja, por causa da fila tumultuada o trânsito na região onde os filhos de Deus estavam ficou um verdadeiro inferno. Até distribuição de santinhos de políticos apareceu – junto com o bio-horror Cronenberguiano Havanir Nimitz.

Há algum tempo atrás, na época de garoto, shows em estádios tinham filas bagunçadas por pouco tempo; a polícia chegava rapidamente e eficazmente endireitava a fila na base de cacetetadas em nossas joviais pernocas de molecada-de-jeans-e-camiseta-de-banda. E tudo ficava na santa paz.

A PM não gostava é do King Diamond.g